Master in Communication, Culture and Information Technology (ISCTE-IUL)

Sintra

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Artigos de Opinião

2012

Portugal vê-se "grego" para pagar

   Hoje, Jean Claude Juncker interpreta o papel de polícia bom. Finalmente o FMI percebeu que as medidas de austeridade, questão implacavelmente impuseram aos países em crise, não resultam. A investigação do FMI que saiu no World Economic Outlook veio deitar por terra qualquer esperança sobre a capacidade financeira de Portugal para pagar as suas dívidas. Como o estudo revela, por cada euro que o ajustamento orçamental cortou, o efeito recessivo no PIB foi de 0,9 a 1,7 (ao contrário de 0,5 previstos).


   Perante tal precipício verifica-se uma rusga. “Mãos ao ar! Isto é um assalto!” Os que fazem mal os cálculos não têm outra opção se não empurrar os que ainda estão em desequilíbrio. Tudo para salvar o país de uma derrocada.
 

   Devido há pilha de corpos que se foi acumulando no fundo do abismo (afinal, já começava a cheirar mal) só havia realmente esta solução: renegociar as condições de crédito e perdoar parte da dívida. Só resta saber se esta consciencialização não vem tarde demais.
Parece que a crise económica europeia chegou a um ponto que aproxima a Grécia a Portugal e Irlanda. Afinal, todos se vêem “gregos” para pagar. Somos uma Europa mais unida.
 

   Só segunda-feira é que o presidente do Eurogrupo formaliza esta dádiva dos deuses da austeridade. Isto se não aparecer entretanto um polícia mau que o impeça de fazer a sua boa ação. 

2012

Ainda quer ser jornalista?

   A economia está em recessão e Portugal, infelizmente, é só um de muitos exemplos. Apesar de considerar o jornalismo como uma profissão importante para o próprio desenvolvimento da sociedade existe um problema: muitos candidatos para poucas vagas. Mas não será assim para outras profissões? Pensemos nos professores que já pertenceram a uma classe trabalhadora tão prestigiada. Ou nos arquitetos e até engenheiros civis… O que é que isto nos diz? Diz-nos que a pergunta está mal feita. A questão deveria ser: porque não ser jornalista? Porque não… Porque o desemprego não é esquisito e não escolhe profissões.


   O desemprego está obeso, mas não é por existir demasiados jornalistas. Na minha opinião, não há falta de nenhuma profissão em particular. O que existe realmente falta, muita falta mesmo são… bons profissionais e pessoas empreendedoras. Pode não existir emprego, mas existe sempre trabalho. No caso do jornalista esse trabalho nunca termina porque as pessoas continuam a viver, a cometer erros, a ter opiniões. Ou será que o mundo vai acabar?


   Esqueçam as questões românticas, esqueçam os protestos e mostrem criatividade. Saiam para a rua, vivam a vida e lutem. Mas lutem pelo sucesso do vosso trabalho e não por outras questões. Se os jornais em papel têm cada vez menos adeptos então os jornalistas devem adaptar-se ao mercado e construir um jornal digital. Este será o futuro do jornalismo. Nem todas as empresas têm de começar com um investimento de 1 milhão e, afinal, construir um jornal digital não será um investimento muito caro. Atrevo-me a dizer que será mais barato do que em papel.
Claro que a conjetura económica não ajuda o empreendorismo. As pessoas andam deprimidas, andam com o nariz apontado para o chão. Se calhar estão à procura de forças para lutar e voltar a viver. Sim, porque hoje em dia há mais pessoas que sobrevivem do que aquelas que vivem.


  O despedimento dos funcionários públicos ainda não cessou. O Estado quer reduzir as despesas porque, afinal, estamos em crise. Mas se despedem pessoas, elas vão para o desemprego. Se vão para o desemprego o Estado passa a pagar-lhes para não produzirem. Isto faz sentido? Reorganizar não é deitar fora. Sair da crise não passa pela austeridade como todos nos querem fazer acreditar. Portugal precisa de dinheiro e não é tirando dinheiro ao próprio país que estará numa melhor situação económica. Ah… O objetivo é pagar as dívidas e não gerar riqueza? Então as medidas são perfeitas. Parabéns pelo bom trabalho. Só há um pormenor: quando acabarmos de pagar a dívida deixem algum dinheiro de parte para construir mais pontes. Afinal, vamos todos viver como sem abrigos.
 

   Austeridade devia ser um sinónimo de suicídio. Em vez de despedir funcionários públicos, porque não agarram neles e os colocam em empresas que exportem produtos? Paguem-lhes para produzir e não para não produzirem. Rendimento mínimo de inserção? Com certeza, mas temos trabalho para fazer. O projeto recente – Impulso Jovem – vem ao encontro do que defendo, mas é preciso ser feito muito mais porque apenas abrange uma parcela muito pequena de desempregados.


   Não há falta de trabalho, mas sim de emprego. Se o Estado pegasse em todos os desempregados e os inserisse no Mercado de trabalho ia ver as suas receitas aumentar e melhor… o dinheiro vinha lá de fora! O aumento das exportações são a solução porque traz mais receitas fiscais e aumenta o nosso poder de compra.
   Ainda há dúvidas? O papel dos jornalistas também passa por mostrar soluções. Se não concordam com as medidas de austeridade então apontem para outras soluções.
   Sr. Futuro jornalista, pare de apontar o nariz para o chão que com certeza já deve ter dores no pescoço. 

01/2013

Vai um cafezinho?

   Torrado, em grão ou moído. Cheio, curto, pingado. Seja de que forma for, o português não vive sem o seu café quente logo pela manhã. Parece que o dia fica mais fácil de “aturar” depois daqueles 3 minutos. Mas não chega. Depois de uma manhã stressante, recheada de trabalho e pessoas chatas, vem o almoço. Mas a refeição só fica completa se finalizarmos com mais um café – é preciso energia para enfrentar a tarde.

   Fazendo as contas, são dois cafés por dia. Isto se a meio da manhã não existir uma pausa para o café com os colegas menos chatos, claro.
As pessoas continuam a dizer que não vão pedir fatura quando consomem apenas um café. Será que o café sabe melhor sem fatura? É esse o segredo? Do género: “sou rebelde e sou português, não vou pedir fatura”. Ou será receio que os empregados fiquem ofendidos ao se verem obrigados a gastar dinheiro em papel por causa de um mísero café.

   As desculpas são várias, mas o resultado final é quase sempre o mesmo. No entanto, se comprarmos uma televisão de €500 ou um computador de €400 não há dúvidas. Ninguém compra um produto destes se não existir emissão de fatura. Não têm ainda as novas máquinas de faturação? Até somos capazes de fazer um escândalo e acusar o vendedor de fuga ao fisco.

   O “Sr. Zé” lá do café do bairro é que é honesto. Coitado... Não tem muita margem de lucro, farta-se de trabalhar, o iva na restauração aumentou e não tem dinheiro para as novas máquinas. Não se vai exigir fatura. Afinal, não vai ser um café que fará a diferença na economia do país.
   Mas grande parte dos portugueses bebe em média 2 a 3 cafés por dia. Na melhor das hipóteses, o café custa €0,60. Logo, gastamos por ano entre €438 (2 por dia) e €657 (3 por dia) em cafés. E desse dinheiro recuperamos 5% (do iva) se tivermos pedido fatura. Ou seja, não pagaremos uns quantos cafés. Mas se não pedimos fatura, o estado perde mais de €150, por pessoa. Imaginem o que é 1 milhão de pessoas com a mesma atitude - são 150 milhões roubados ao Estado. Isto dá que pensar.

   As novas regras de faturação que entraram em vigor a 1 de Janeiro tentam combater esta evasão fiscal e a economia paralela, que desvia 12 mil milhões de euros dos cofres do estado. O último relatório do FMI trouxe algumas sugestões para que o Governo reúna 4 mil milhões de euros na despesa pública. Despedimentos, aumento das taxas moderadoras, aumento das propinas, diminuição de salários da Função Pública, etc. O costume.

   Para aos mais supersticiosos o número 13 é o número do azar. Se 2012 foi um ano difícil, 2013 não começou auspicioso, pois a fuga ao fisco continua. Estamos a contribuir para o despedimento de pessoas. Afinal, se a economia não melhorar, o Estado terá de seguir as sugestões do relatório do FMI.